Os Humanos têm Corpos. Mas como protagonizá-los?
- kemperlito
- Mar 25, 2021
- 2 min read
Updated: Apr 16, 2021
No capítulo 5 do livro "21 lições para o século 21", Yuval Noah Harari propõe ao leitor uma revermos a maneira com que nos relacionamos com as pessoas e o mundo a nossa volta. Mas em um mundo ligado às tecnologias virtuais, como podemos fazer isso?
Através do manifesto dado pelo dono da Facebook, Mark Zuckerberg, em 16 de fevereiro de 2017, Harari nos faz questionar se as relações de comunidades que temos em nossas mídias sociais realmente tem a força de uma relação no mundo físico. O CEO defende que o Facebook tem um papel fundamental nas relações socais que temos hoje e que direcionará todos os seus recursos para nos fazer conhecer uns aos outros e, através disso, produzir uma única sociedade de respeito e união.

Hoje, estamos conectados uns com os outros através de diversas mídias, mas isso não nos torna menos solitários. Apesar de sermos capazes de compartilharmos momentos de nossas vidas, não significa que conhecemos os outros, pois nossas mídias só apresentam uma de nossas faces, só pontos positivos que tornam nosso "perfil" superficial.
Muitas vezes, estamos passando por uma experiência interessante e nosso primeiro instinto é registrá-lo no celular, devido a valorização que nossa imagem nas mídias sociais tem. O problema disso é que passamos a não aproveitar o momento com nossos corpos no mundo físico, sempre avaliamos a experiência através de um filtro digital. Essa relação nos distancia de nossos próprios corpos e do mundo sensível em que vivemos.

Segundo a psicóloga Sherry Turkle, nós estamos cada vez mais nos distanciando das interações face-a-face, substituindo conversas por conexões. Isso porque as interações digitais não acontecem em tempo real e você tem controle sobre o que vai dizer, você é capaz de ajustar e "deletar" o que vai dizer. Ela defende que há três fantasias fundamentais para nos apegarmos aos meios digitais: nós podemos decidir em que vamos colocar nossa atenção; nós seremos sempre escutado; e nunca estaremos sozinhos.
No entanto, discordo de Harari no que diz respeito a necessidade de nos afastarmos completamente do mundo digital. A nossa estrutura de sociedade já está simbioticamente ligada as tecnologias de conexão online e acredito que isto só vai se desfazer caso haja uma crise de escala cinematográfica.
Levando isso em conta, acredito que para solucionarmos o problema de desconexão com o mundo físico, precisamos modificar a maneira que as tecnologias computacionais são projetadas. Se fosse desenvolvido um meio de sincronizar nossa interação com o computador com nosso tato (ou até mesmo olfato e paladar), estaríamos mais conscientes dos nossos corpos e não mais em uma relação audiovisual como a da televisão.
Segundo Mark Weiser em seu texto, "The World is not a Desktop", os computadores, por serem ferramentas, deveriam ter uma natureza invisível. Contudo, eles estão cada vez mais voltados para a exposição de suas interfaces. Talvez, ao focarmos essa tecnologia numa interação multissensorial, sejamos capazes de torná-los ferramentas invisíveis, deixando de olhar o computador, e passando a sentir o objetivo que desejamos alcançar.

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